O que mais me preocupa da situação económica e social actual, não é o mal que algumas ou muitas famílias estão a passar (também me preocupa, claro) senão as caras que vejo quando passo por pessoas na rua...
São caras de resignação em vez de revolta, como se em vez de ver a falta de comida dos filhos vissem antes que o benfica ou o porto foram eliminados na taça de Portugal...
Reparo também que se está a estender uma espécie de humorismo obrigatório segundo o qual contar anedotas sobre a crise ou rir da crise se torna motivo de chacota.
Reparo também que até na publicidade de alguns produtos se fala como que de uma nova moda como quando apareceram as calças a boca de sino ou um corte de cabelo moderno... repararam no anuncio da Danone do iogurte contra a crise? A crise está de moda...
Torna-se tudo trivial... ter a angustia de não poder chegar ao fim do mês para pagar contas, por ver que o posto de trabalho está preso por uma unha negra, é agora uma angustia desvirtuada... como se não tivesse muita importância. Dá a impressão de que o medo ao que acontecerá ou o temor a não ser capaz de sair da má situação na que se encontra a própria família fosse um rasgo de histeria próprio de quem faz tempestades num copo de água.
Na realidade, a meu ver, a histeria é a contraria...
Vivemos no meio de um sorriso irónico, um desses sorrisos macabros como o de um condenado a morte, que se torna cínico porque não encontra outra salvação...
A anestesia chegou até nós como que para convencer-nos de que é melhor aguentar o que nos dão a dizer de uma vez por todas ao governo que nos deixe de sepultar de uma vez por todas nas suas estupidezes, e que vamos por-nos todos mãos a obra para superar esta, maldita, moda instaurada...
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